Eu tenho medo do Covid, você não tem? Tenho medo que o Covid leve meus pais, leve meu irmão, leve meus amigos. Todos os meus amores.

Eu tenho medo, muito medo. Tenho medo de ver as pessoas sufocando, sem alguém que possa ajudá-las. Tenho medo que nada possa ser feito e que nenhum remédio cure.

Eu tenho medo de perder o chão e de perder tudo o que eu conheço e que me mantém segura e sã. Eu tenho um medo enorme de ser obrigada a me isolar, sozinha. Não para proteger, mas porque não pude proteger.

Eu tenho um medo que as vezes não cabe em mim.

Eu sei que a vida não pode parar, que temos que ganhar nossos sustentos, que precisamos comer e fazer a coisa andar.

Também sei que precisamos sempre de um equilíbrio para não afundar na tristeza, mas hoje. Só hoje, eu parei e pude enxergar. Eu vi, não o que mostram na TV, o que dizem no rádio ou contam pelas redes sociais. Eu percebi que a verdade que a gente teima em esconder de nós mesmos é o medo do que podemos perder. E por isso nos escondemos no dia a dia que tem que acontecer, na vida que não pode ficar suspensa e até nas notícias que podem trazer alguma esperança.

A verdadeira esperança tinha que vir do outro, do vizinho, do bairro, da cidade, do país inteiro, porque quem sente esperança é humano. E quem pode ajudar é humano. Ficar em casa, lavar as mãos, não aglomerar, respeitar as distâncias. Essas medidas quem deve tomar é você, sou eu, todos nós. Porque é só assim que a coisa vai melhorar e que a gente poderá cultivar a esperança.

É só tomando conta de si e alertando o outro para que se tome conta, que não teremos que fazer isolamento obrigatório, solitário e triste, pelo resto da vida.